Poesia sim...

A Gentil CamponesaMOTE 

Tu és pura e imaculada, 
Cheia de graça e beleza; 
Tu és a flor minha amada, 
És a gentil camponesa. 

GLOSAS 

És tu que não tens maldade, 
És tu que tudo mereces, 
És, sim, porque desconheces 
As podridões da cidade. 
Vives aí nessa herdade, 
Onde tu foste criada, 
Aí vives desviada 
Deste viver de ilusão: 
És como a rosa em botão, 
Tu és pura e imaculada. 

És tu que ao romper da aurora 
Ouves o cantor alado... 
Vestes-te, tratas do gado 
Que há-de ir tirar água à nora; 
Depois, pelos campos fora, 
É grande a tua pureza, 
Cantando com singeleza, 
O que ainda mais te realça, 
Exposta ao sol e descalça, 
Cheia de graça e beleza. 

Teus lábios nunca pintaste, 
És linda sem tal veneno; 
Toda tu cheiras a feno 
Do campo onde trabalhaste; 
És verdadeiro contraste 
Com a tal flor delicada 
Que só por muito pintada 
Nos poderá parecer bela; 
Mas tu brilhas mais do que ela, 
Tu és a flor minha amada. 

Pois se te tenho na mão, 
Inda assim acho tão pouco, 
Que sinto um desejo louco: 
Guardar-te no coração!... 
As coisas mais belas são 
Como as cria a Natureza, 
E tu tens toda a grandeza 
Dessa beleza que almejo, 
Tens tudo quanto desejo, 
És a gentil camponesa 

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..." 

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