Poesia sim...

Poema FinalÓ cores virtuais que jazeis subterrâneas, 
_ Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise, 
Represados clarões, cromáticas vesânias, 
No limbo onde esperais a luz que vos batize, 
As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis. 
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra, 
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus, 
E escutando o correr da água na clepsidra, 
Vagamente sorris, resignados e ateus, 
Cessai de cogitar, o abismo não sondeis. 
Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados, 
Que toda a noite errais, doces almas penando, 
E as asas lacerais na aresta dos telhados, 
E no vento expirais em um queixume brando, 
Adormecei. Não suspireis. Não respireis. 

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

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