Poesia sim...

O CavaleiroTalvez o espere ainda a Incomeçada 
aquela que louvámos uma noite 
quando o abril rompeu em nossas veias. 
Talvez o espere a avó o pai amigos 
e a mãe que disfarça às vezes uma lágrima. 
Talvez o próprio povo o espere ainda 
quando subitamente fica melancólico 
propenso a acreditar em coisas misteriosas. 

Algures dentro de nós ele cavalga 
algures dentro de nós 
entre mortos e mortos. 
É talvez um impulso quando chega maio 
ou as primeiras aves partem em setembro. 

Cargas e cargas de cavalaria. 
E cercos. Conquistas. Naufrágios naufrágios. 
Quem sabe porquê. Quem sabe porquê. 
Entre mortos e mortos 
algures dentro de nós. 

Quem pode retê-lo? 
Quem sabe a causa que sem cessar peleja? 
E cavalga cavalga. 

Sei apenas que às vezes estremecemos: 
é quando irrompe de repente à flor do ser 
e nos deixa nas mãos 
uma espada e uma rosa. 

Manuel Alegre, in "Atlântico"

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Livro da semana: "Um problema muito enorme"

Lenda de Celorico de Basto : “Justiça popular...na Villa de Basto"